terça-feira, 27 de março de 2018

O Edifício Trianon




Fotografias de Clóvis Campêlo / 2018

O EDIFÍCIO TRIANON

Clóvis Campêlo

Consta que o prédio foi inaugurado em 1945.
Segundo a página Prédios do Recife, do Facebook, o prédio é um dos marcos da arquitetura moderna dos anos 30, o que nos leva a supor que é deste período o seu projeto. No edifício, até 1990, funcionou o Cinema Trianon do Grupo Art Filmes.
A concepção do edifício seguiu o princípio de prédios de uso misto como o Cinema Ipiranga/Hotel Excelsior em São Paulo, abrigando escritórios, consultórios e o cinema homônimo no térreo.
Ainda segundo a mesma página, a fachada da esquina com a Avenida Guararapes e Rua do Sol é marcada por uma grande reentrância curva, completada por marcações de pestanas de concreto entre seus pavimentos. O projeto original previa apenas quatro pavimentos, depois ampliado para sete. O cinema abrigava 611 lugares e a sua área era coberta com tesouras em concreto e telhas cerâmicas.
A edificação está inserida no polígono de tombamento dos bairros São José e Santo Antônio, pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.
Em 2012, no seu blog, Maria Helena do Nascimento, a Cidadã Repórter, já reclamava da situação de abondono do prédio: “O outrora famoso Edifício Trianon, um dos mais bonitos cartões postais da capital pernambucana, transformou-se em uma velha e feia carcaça sem portas e janelas, um prédio catacumba localizado na Avenida Guararapes esquina com a Rua do Sol, área central do Recife”.
Hoje, a situação não é muito diferente. O prédio continua abandonado e nem mesmo serve mais para os camarotes do Galo da Madrugada durante o carnaval, haja visto que a agremiação mudou o seu itinerário durante os festejos de Momo.
Os grandes médicos recifenses dos anos 60 e 70 tinham no prédio os seus consultórios. Lembro do doutor Ernani Bérgamo, otorrino famoso na época e que tinha na sua sala um impressionante gabinete entalhado em jacarandá da Bahia. Da janela do consultório tinha-se uma visão privilegiada do Capibaribe e do famoso Quem-me-Quer, como eram chamadas naquela época as calçadas que circundavam o rio. Na margem oposta, ao lado do Cinema São Luiz, a famosa sorveteria Gemba.
No Cinema Trianon, tive o privilégio de assistir a alguns dos grandes filmes da época, como 2001, uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick, e o filme original do Planeta dos Macacos, Charlton Heston, baseado no romance de Pierre Boulle.
Como podemos observar pelas fotografias acima, o abandono do prédio não é um fato isolado. Reflete a perda da importância de toda aquela área, abandonada pelo poder público e pela iniciativa privada.
Como já disse o poeta, a grana ergue e destrói coisas belas. O Edifício Trianon e todo o seu entorno perderam importância depois do surgimento de outras áreas e concepções de comércio na cidade, como por exemplo a construção dos grandes shoppings center.
O centro histórico do Recife hoje está entregue ao comércio informal, aos pequenos comerciantes e às casas do jogo do bicho, atividade que é considerada contravenção mas que se mantém por garantir o emprego de milhares de pessoas. 

Troça Carnavalesca Tubarão do Pina

Pescadores do Pina

TROÇA CARNAVALESCA TUBARÃO DO PINA



Clóvis Campêlo



Segundo a pesquisadora Cláudia M. de Assis Rocha Lima, em texto publicado no site da Fundaj, a troça carnavalesca mista é um clube de frevo em menor dimensão que sai logo no início da manhã, apresenta-se nas ruas do centro ou do subúrbio, até as primeiras horas da tarde. Originam-se esses grupos carnavalescos de simples brincadeiras, onde está implícito o espírito crítico dos próprios foliões, como demonstra o significado do verbo troçar: escarnear, zombar, ridicularizar; vindo assim caracterizar a psicologia desses agrupamentos. As troças são divididas, pela Federação Carnavalesca Pernambucana em primeira, segunda e terceira categorias, havendo outras que, por não estarem filiadas, não pertencem a quaisquer divisões. São a alegria dos subúrbios, chamadas por vezes de "levanta poeira". Alegram o carnaval de rua, durante o dia, e, por vezes, se apresentam com mais luxo e melhores orquestras, que os próprios clubes carnavalescos.

Tubarão do Pina era uma dessas troças, formada pela grande colônia de pescadores que havia no bairro e que animava o carnaval dali. Também tinha uma sede na Avenida Encanta Moça, onde nos finais de semana a categoria participava das festas.

Descobri com atraso que o pai do amigo Ademário Pessoa foi presidente da agremiação, conservando em casa, durante anos, um estandarte azul da troça. A peça foi descartada com a morte de dona Mariá, mão de Ademário. Teria sido uma relíquia importante, um troféu que eu guardaria com admiração pelo resto da vida.

Não sei onde é a sede do clube hoje. Nem mesmo sei se ela ainda existe, pois leio nos jornais do Recife que a Troça Carnavalesca Tubarão do Pina só se organiza nas proximidades do carnaval. Descubro ainda que este ano Tubarão desfilou no polo da Avenida do Forte, na zona oeste da cidade, reservado geralmente para agremiações de terceira ou quarta categoria.

Na verdade, amigos, o Pina mudou muito nos últimos anos. A sua acelerada urbanização e a ocupação desenfreada dos seus espaços pela especulação imobiliária (hoje o bairro tem o metro quadrado mais caro do Recife) fez com que muitas das manifestações populares que ali havia nos anos sessenta e setenta fossem transferidas para outros locais acompanhando os segmentos sociais que a cultivavam. Foi assim com os terreiros de macumba que existiam na beira da maré, aterrada pelas largas avenidas que hoje cortam o bairro; foi assim com os pastorís profanos que nos encantavam nas festas natalinas; foi assim com algumas agremiações carnavalescas.

Sem nenhum ranço saudosista, mas lamentando a mudança ocorrida, sentimos falta ainda hoje dessas manifestações. O Pina sempre foi um caldeirão cultural que perdeu força com a chegada da classe média alta ao bairro.

Na comunidade do Bode, por exemplo, ainda podemos entender a presença de um clube como o Banhistas do Pina, ou do Maracatu Nação Porto Rico, no Encanta Moça. Mas tememos sinceramente que esses focos de resistência cultural terminem sendo anulados ou transferidos com a evolução e o progresso do bairro.

Essas duas comunidades, por exemplo, estão constantemente ameaçadas pela chegada das obras modernizadoras. A Via Mangue que o diga.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Monumento da Gaivota Karina






Fotografias de Clóvis Campêlo / 2018

MONUMENTO DA GAIVOTA KARINA

Clóvis Campêlo

De acordo com o blog das PPPs, o Monumento da Gaivota Karina é de autoria do artista plástico, escultor e ceramista Val Bonfim, inspirado no poema “Ode à Karina”, do escritor, jornalista e poeta, Waldimir Maia Leite, membro da Academia Pernambucana de Letras (APL) e cidadão jaboatanense. No monumento é possível ler o poema, que está cravado na lateral da base da escultura.
Ainda segundo o mesmo blog, o Monumento da Gaivota Karina, foi esculpido em 1994. O local escolhido para a fixação da escultura – em frente ao Hospital da Aeronáutica, na beira-mar de Piedade – era frequentado pelas gaivotas, sempre ao entardecer. Nos anos 80, o poeta Waldimir Maia Leite usando o seu espírito romântico, começou a escrever versos soltos a respeito dessas gaivotas. Aos domingos, em sua página “Paralelo 8”, do Diário de Pernambuco, o poeta sempre escrevia para uma, entre tantas gaivotas, a qual associou no seu sentimento oculto, uma bela e esplendorosa gaivota, que logo passou a chama-la de Karina. Assim, os versos de Karina ficaram conhecidos em vários lugares do Brasil, pela circulação da sua coluna jornalística.  Então, o poema “Ode a Karina” foi prestigiado nesta belíssima escultura, e hoje, é considerado um dos espaços turísticos e artísticos de memória histórica e cultural de Jaboatão dos Guararapes”.
Segundo o site da Arte Maior Galeria, Val Bonfim nasceu em Pernambuco em 5 de maio de 1942. Iniciou-se na arte em 1964. Escultor e pintor, realizou exposições individuais e participou de diversas coletivas no Brasil e Exterior. A beleza, originalidade e forma fazem o encanto da arte de Bonfim.
Inicialmente o Monumento da Gaivota Karina era na cor cinza. Depois da reforma feita pela Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, em 2014, ressurgiu branco. Antes, durante algum tempo, ficou na beira da praia entregue ao abandono e ao vandalismo de alguns. Foi pichado, as placas com poemas de Maia Leite foram arrancadas e a iluminação do local foi roubada, ficando tudo às escuras. A reforma, que custou cerca de R$ 43 mil aos cofres da prefeitura do município, garantia ao público o usufruto do monumento, num justo reconhecimento ao trabalhos dos dois artistas, hoje já falecidos.
Penso que no local, um tanto quanto deserto já que não está situado numa área residencial e tem como vizinho apenas a Praia da Piedade e o Hospital da Aeronáutica, poderia ser construído um polo de lazer, com um parque infantil e uma academia pública para os cidadões locais se exercitarem. Mas, numa época em que as prefeituras se mostram deficitárias essa sugestão pode parecer um tanto quanto sonhadora.

quarta-feira, 21 de março de 2018

O antigo posto 5


 

 

O ANTIGO POSTO 5

Clóvis Campêlo

Na verdade nem mesmo sei se essa era mesmo a sua numeração inicial. Porém, como dos cinco postos salva-vidas restantes ele é o último, no sentido Pina-Boa Viagem, assim o estou classificando.
Fica logo após a Praça de Boa Viagem, em frente ao local onde havia anteriormente o prédio de seus andares do antigo Hotel Boa Viagem, demolido no final dos anos 90.
E se antes o cenário ilustrado por coqueiros e grandes casarões, hoje o antigo posto contrasta com dois grandes espigões, construídos no terreno do antigo hotel demolido. No seu enredo, a paisagem não se modifica muito: são muitos os prédios construídos. Até mesmo a paisagem da praia mudou. Onde antes havia areia e espaço suficiente para os banhistas, hoje existe um dique feito com grandes pedras para proteger o calçadão e evitar o avanço do mar naquela área. Quando a maré está baixa, ainda sobra espaço para os banhistas e para os comerciantes que com eles dividem a areia. Quando a maré sobre, porém, a água do mar cobre toda a área, tornado-a inadequada para o banho. Nem mesmo um ponto de jangada que existia mais à frente, diante do Conjunto Residencial Transatlântico, existe mais. Não se pode porém culpar apenas o avanço do mar por isso. Com a urbanização e a excessiva valorização dos imóveis daquele trecho do bairro, a antiga colônia de pescadores que ali existia foi empurrada para longe.
Hoje, o antigo posto, como todos os outros quatro ainda remanescentes integram o Projeto Salva-Arte, numa tentativa dos poderes constituídos em ainda lhe atribuir algum valor. Se os transeuntes e moradores do bairro aprovaram essa intervenção, não sabemos.
Nas fotografias acima, feitas por nós em fevereiro próximo passado, tentamos mostrar estes contrastes entre as linhas retas dos altos prédios ao redor e as linhas curvas do posto em evidencia. Essas diferenças também podem ser admiradas do ponto de vista arquitetônico: um contraste entre o estilo funcional moderno, quase sempre em ângulos retos, e o traço decó dos postos de salvamento.
O contraste, inclusive ameniza a verticalização excessiva e exagerada dos imóveis da Avenida Boa Viagem naquele trecho, exercida numa época em que ainda não havia o controle devido da ocupação do solo urbano recifense.
Nesse sentido, é interessante citar a matéria postada no site G1, da Globo, onde a questão é abordada de uma forma genérica e mais especificamente sobre a ocupação desregrada que aconteceu nos bairros do Pina e Boa Viagem. O texto de Vitor Tavares e Luna Markman diz o seguinte: “O Recife, por exemplo, cidade que tem o privilégio de ter como vizinhos o Oceano Atlântico, rios e canais, possui inúmeras construções que simplesmente viram as costas para a paisagem natural. Outro exemplo negativo que a capital pernambucana tem, no entendimento de especialistas, é a falta de escalonamento dos edifícios. Em Boa Viagem, na Zona Sul, grande parte dos prédios mais altos está localizada na beira da praia, atrapalhando a urbanização e a circulação do vento na parte mais interna do bairro”. E continua estendendo a análise até as praias vizinhas de Piedade e Candeias, em Jaboatão dos Guararapes: “ A ocupação da orla de todo o Grande Recife também é questionável, principalmente em bairros como Piedade e Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, onde há áreas onde sequer existe calçada entre os prédios e a praia”.


terça-feira, 20 de março de 2018

O Castelinho

 
 

O CASTELINHO

Clóvis Campêlo

Segundo o amigo Paulo Lisker, um recifense que mora em Israel, o casarão pertenceu à família do artista plástico Lula Cardoso Ayres.
No seu livro Trilhas do Recife – Guia Turístico, Histórico e Cultural, o escritor João Braga é bastante suscinto: “Na Av. Boa Viagem nº 4530, encontra-se uma antiga e bela construção residencial, depois restaurante, o Castelinho. Foi cartão-postal, ponto de encontro e referência do bairro de Boa Viagem. Atualmente, preservando o casarão, em seu terreno foram construías duas torres de um edifício residencial”.
No livro O Recife e Seus Bairros, o pesquisador Carços Bezerra Cavalcanti é ainda mais econômico: “Entre os casarões do bairro destaca-se, na Av. Beira Mar, um em forma de castelo (o Castelinho)”. Além de brevíssimo, o escritor ainda cometeu o equívoco de chamar a Avenida Boa Viagem de Avenida Beira-Mar. Acontece.
No site Por Aqui, em texto de Geraldo Lélis, encontramos algumas outras informações: “Os mais novos ouvem o termo Castelinho como referência de localização na Av. Boa Viagem e, às vezes, não sabem do que se trata. Alguns podem até achar que o pequeno castelo é apenas o salão de festas do condomínio de edifícios, onde ele está situado. De fato, hoje ele o é. No entanto, a história conta que o prédio abrigou um restaurante muito concorrido entre as décadas de 1940 e 1980, antes da chegada dos arranha-céus. O local é uma das primeiras construções à beira-mar da Zona Sul do Recife. Além da construção, que já chamava a atenção, o restaurante contava com arborizada área externa, onde atendia os clientes a céu aberto. Era um dos pontos de encontro que a beira-mar tinha durante os fins de semana e principalmente nas férias de verão, quando a ocupação da praia aumentava significativamente. No início dos anos 1990, o Castelinho e sua área deu lugar aos edifícios Castelinho e Castelo del Mar, na esquina com a Rua Benedito Chaves. Devido ao fato de o Castelinho ter sido incluído na lista dos imóveis especiais de preservação (IEP), a edificação foi mantida e compõe a área comum do condomínio”.
Nas fotografias acima, podemos observar que o prédio sofreu algumas modificações ao longo do tempo. Na primeira fotografia, de autor deconhecido e colhida por nós no site acima mencionado, observamos a existência de uma torre alta e que dava mais sentido à denominação do prédio. Na segunda fotografia, feita por nós em fevereiro próximo passado, o prédio já não conserva a mesma imponência, mas ainda se impõe pela beleza e pela arquitetura diferenciada entre os espigões que hoje ornamentam a orla da praia da Boa Viagem.
Na verdade, as informações deixam a desejar. Gostaríamos de saber, por exemplo, o ano da sua construção, quando e porque foi feita a reforma que lhe alterou as características iniciais, e até mesmo o nome do profissional que fez o seu projeto.
O Castelinho sempre foi para nós, meninos criados na para do Pina, uma referência positiva na longínqua Boa Viagem. Fazia parte do cenário dos altos coqueiros que antes compunham a paisagem praieira daquele lugar.
Felizmente para nós, a edificação resistiu à ação deletéria do tempo e dos homens.
Que Nossa Senhora da Boa Viagem diga amém!

quinta-feira, 15 de março de 2018

O antigo prédio do Diario de Pernambuco



O ANTIGO PRÉDIO DO DIARIO DE PERNAMBUCO

Clóvis Campêlo

O impressionante como mesmo abandonado e em ruínas o antigo prédio do Diario de Pernambuco mantém-se belo e imponente.
Segundo matéria publicada no jornal Folha de Pernambuco do dia 5 de janeiro próximo passado, parte da fachada de centenário prédio localizado diante da Praça da Independência, no bairro de Santo Antônio, foi ao chão. Pedaços que compunham uma das janelas do prédio despencaram, segundo testemunhas, no último sábado (30 de dezembro). A Defesa Civil do Recife terminou por retirar pedaços da construção que ameaçavam cair e circundou o local com faixas de segurança para evitar maiores atropelos e consequência.
Mais adiante, na mesma matéria,  o prédio, construído em 1903, funcionou como redação do jornal até 2004. Em 2014, foi divulgada a cessão, pelo Governo do Estado, ao Porto Digital para utilização por 10 anos. Segundo o projeto de lei, o imóvel poderia ser usado para a instalação de empresas de tecnologia da informação e comunicação. Até hoje, porém, o prédio permanece fechado e em processo de decadência acelerado.
Segundo matéria publicada no próprio jornal Diario de Pernambuco, em 20 de novembro de 2014, o prédio foi construído em 1903 pelo então proprietário, o conselheiro Rosa e Silva, para abrigar o decano da Imprensa brasileira, e se tornaria durante o século 20 palco de acontecimentos de dimensão histórica. O edifício tornou-se, no período de Carlos Lira Filho, uma espécie de reduto da intelectualidade. Recepcionou um presidente da República no exercício do cargo e até mereceu um gesto simpático de um integrante da realeza britânica, a rainha Elizabeth, em visita a Pernambuco. Ainda segundo a mesma matéria, o edifício do antigo Diario de Pernambuco foi a sétima sede do periódico, que atualmente funciona no bairro de Santo Amaro, na Rua do Veiga.
Segundo o pesquisador João Braga, no livro Trilhas do Recife - Guia Turístico, Histórico e Cultural,  anteriormente o jornal funcionou na Rua das Cruzes, atual Rua Diario de Pernambuco, em casa que  pertencia ao comendador Manoel Figueiroa de Faria, mas logo depois mudou-se para o prédio onde funcionou até 2004. Em 1913, foi reformado, ganhando mais um pavimento e um relógio que foi adquirido nos Estados Unidos.
Na fotografia acima, feita por nós em fevereiro próximo passado, vale a pena observar em primeiro plano a escultura de Corbiniano Lins, falecido recentemente, em homenagem aos carteiros do Recife e inaugurada em 2005.

quarta-feira, 14 de março de 2018

O trânsito em Boa Viagem


 



 O TRÂNSITO EM BOA VIAGEM

Clóvis Campêlo

O acidente acima aconteceu na madrugada do dia 14 de fevereiro próximo passado, em plena Quarta-Feira de Cinzas. Aliás, os acidentes são uma constante nesse cruzamento, principalmente de madrugada quando os motoristas não respeitam a sinalização com medo dos assaltos. Como moro perto do local, já presenciei ali vários abalroamentos, felizmente sem vítimas fatais.
No presente caso, o Fiat branco transitava pela Avenida Domingos Ferreira e queimou o sinal vermelho. Bateu no poste do semáforo, que caiu sobre o carro vermelho que vinha pela Rua Félix de Brito e Melo, no sentido da praia.
No site Por Aqui, encontrei uma matéria interessante sobra o trânsito na Avenida acima citada. Diz o seguinte: "Todo mundo que mora no Recife, por mais ao norte que se more, já pegou algum congestionamento na Av. Domingos Ferreira, aponta estudo?. Tá, 100% pode até não ser, mas pelo menos 99,9% já viveu perigosamente a 5 km/h na via que começa no Pina e vai até o fim de Boa Viagem". E continua: "Quem nunca teve de justificar algum atraso por estar preso na Domingos Ferreira? Quem nunca reclamou ao saber que determinado destino fica na Domingos Ferreira? Se você já teve motivos para xingar esse nome, saiba agora quem é a pessoa que batiza uma das vias mais importantes da cidade". E conclui: "Estamos falando de um engenheiro urbanista importante para o Recife durante os anos 1920, 30 e 40 ao realizar vários projetos para a cidade, como a remodelação do bairro de Santo Antonio e o Parque 13 de Maio, ambos no Centro. Ele nasceu em 1894, no município de Pesqueira, no Agreste Pernambucano. Entre os projetos do engenheiro, estava a urbanização de Boa Viagem, a partir da década de 1940. Há quem diga que o projeto de Boa Viagem não foi executado conforme ele planejou, já que o estilo dele não se parecia com o corredor de concreto que é a avenida hoje. Além da remodelação do bairro de Santo Antonio, da urbanização de Boa Viagem e da criação do Parque 13 de Maio, Domingos Ferreira também criou o projeto da Av. Guararapes, também no Centro. Atualmente, a via que leva o nome do urbanista recebe a passagem de cerca de 39 mil veículos por dia. Esse número chegou a ser de 57,5 mil antes da inauguração da Via Mangue, em 2014".
Por falar em Via Mangue, essa foi a maior obra de mobilidade urbana feita no governo da Presidenta Dilma Rousseff, desafogando o trânsito nos bairros do Pina e de Boa Viagem. Justiça lhe seja feita.

Restaurante Rainha do Mar



RESTAURANTE RAINHA DO MAR

Clóvis Campêlo

Duas imagens do restaurante Rainha do Mar, em Olinda, conseguidas junto à página Pernambuco Arcaico, no Facebook. Segundo informação da página, as fotografias forame enviadas por Fernando Alves Ferraz.
Na primeira imagem, vemos o restaurante ainda em madeira. Na página, o leitor Eduardo Borborema fez o seguinte comentário: "Lembro demais. Pertencia ao mestre Aragão, paraibano do município de Galante. Depois ele derrubou e construiu o novo Rainha do Mar, que tinha o formato de um navio".
É justamente o segundo prédio, em formato de navio, que vemos na fotografia seguinte, na beira mar do Bairro Novo, em Olinda.
No blog Fotolog, consta a seguinte informação sobre o restaurante que marcou época: "Fotografia de 1972, retratando o famoso restaurante Rainha do Mar, o mesmo era famoso por possuir um formato de navio, e por servir um dos melhores churrascos daquela boa época. O Rainha do Mar era frequentado, por artistas e pessoas importantes da sociedade olindense, que ali ia m para desfrutar, além da boa comida, como o bom churrasco laçado pelo próprio dono, o Sr. Aragão, observar a bela vista que o restaurante lhes proporcionava. Mas tarde, o Rainha do Mar teria seu nome mudado para Restaurante Janaína, ainda mantendo padrão e renome. Quem não lembra do velho Janaína, quem não passou por ali maravilhosas manhãs e tardes das nostálgicas décadas de 70 e 80, ao som da boa música e ao sabor do mar? Sem Dúvidas o Velho Janaína fez história na Formosa Cidade".

terça-feira, 13 de março de 2018

Ambulantes do Recife

 


AMBULANTES DO RECIFE
Recife, março de 2018
Fotografias e texto de Clóvis Campêlo

Segundo o site Nova Democracia, vendedores informais bloquearam as pistas na Praça do Derby, região central de Recife, na manhã do dia 6 de fevereiro, em protesto pela falta dos kits de fardamento, um tipo de material de identificação distribuídos pela prefeitura para garantir a segurança dos trabalhadores.
Os ambulantes se reuniram em frente à estação do BRT, com faixas, cartazes e segurando caixas térmicas utilizadas no trabalho. Algumas das faixas dizem a mensagem "ambulante não é ladrão".
Pelo que consta, o protesto aconteceu por que o material distribuído anteriormente pela Prefeitura não abrangeu a todos os ambulantes da área.
E embora reconheçamos o direitos de todos sobreviverem no mercado informal, não há a menor dúvida de que o comércio ambulante necessita de um mínimo de organização visando a segurança de todos, vendedores e consumidores.
Talvez o enfoque deva até se estender ao comércio nas praias do Recife, onde se vende e se compra de tudo um pouco, inclusive os famosos "raspa-raspa". Eu mesmo já consumi até raspa-raspa de macaíba, uma delícia que oferecida apenas por um dos vendedores do produto.
A carrocinha acima inspirou-se em um elemento da cultura de massa - Frozen - para colorir-se e para oferecer o seu produto de maneira mais colorida. Ao meu ver, uma iniciativa válida e inserida no contexto.

Uma inverdade histórica


UMA INVERDADE HISTÓRICA
Recife, março de 2018
Fotografia e texto de Leonardo Dantas Silva
 
Uma inverdade histórica que, de tanto repetida pelas mais diferentes fontes oficiais, já vem se transformando, nos nossos dias, em verdade (!).
Lembro do caso das comemorações da data de existência histórica das cidades gêmes do RECIFE e OLINDA....
Ambas originadas da decisão do primeiro donatário Duarte Coelho Pereira (c.1485-1554) em escolher o local para fundação de uma vila que viesse a ser o centro administrativo da Capitania de Pernambuco, quando aqui aportou em 9 de março de 1535 no Porto Pernambuco (hoje Sítio dos Marcos), às margens do Canal de Santa Cruz, local onde já existia uma antiga Feitoria Régia (1501) divisa de sua capitania com a de Itamaracá.
Aportando na antiga Feitoria de Cristóvão Jacques (1501), como era assim denominado o local, não poderia o Duarte Coelho constituir, em março de 1535, as bases da futura Vila de Olinda, que viria a ser localizada mais ao sul, como se comprova em nossos dias; surgida, na versão de Frei Vicente do Salvador, da exclamação de ... "um galego, criado de Duarte Coelho, andando com outros pelo mato, buscando um sítio se edificasse (a sede da Capitania) achando este, que é um monte alto, disse com exclamação e alegria: O' linda".
Somente em 12 de março de 1537, dois anos depois, é que o mesmo donatário vem outorgar a chamada Carta Foral de Olinda, descrevendo a nascente vila e estabelecendo as zonas de serventia de sua população, bem como os seus limites e acidentes.
Assim é que, neste mesmo documento, fruto de estudos recentes de historiadores, a exemplo de José Antônio Gonsalves de Mello, aparece mencionado o "Povo do Arrecifes" e "o arrecife dos navios"...
Diante de tais argumentos se conclui que a Vila de Olinda e a povoação do "Arrecife dos Navios" foram nominadas a um só tempo, dentro do mesmo documento, falecendo a inverdade de que Olinda surgiu em 1535 e o Recife em 1537; ou seja, dois anos depois!!!


segunda-feira, 12 de março de 2018

O Galinho do Derby





O GALINHO DO DERBY
Recife, fevereiro de 2018
Fotografias e pesquisa de textos de Clóvis Campêlo


Segundo notícia publicada no site G1, em 25 de janeiro próximo passado, às vésperas da comemoração de 40 anos de desfiles, o Galo da Madrugada, ícone do carnaval pernambucano, ganhou uma homenagem especial. Estátuas coloridas foram espalhadas pelo Recife e Olinda em homenagem ao clube de máscaras. As primeiras quatro esculturas, de um total de 10 obras, foram instaladas em Boa Viagem, na Zona Sul, e em pontos da região central da cidade. As primeiras peças ficaram no Parque Dona Lindu, em Boa Viajem e na Praça da Independência, no bairro de Santo Antônio. Criadas pelo casal de artistas Mila e Rafa Cavalcanti, as obras têm a temática “Galo que Junta Casais”. Elas foram inspiradas na história do casal Nonô Germano e Daniela Freire, que se casaram no desfile do Galo em 2017, em cima do trio elétrico. A “cerimônia” contou com juiz e a participação especial de mais de um milhão de foliões.
O Galinho da Praça do Derby, segundo a mesma matéria, fez parte da segunda etapa do projeto. Além do tema inicial, também foram utilizadas as temáticas do “Galo que Junta Gerações”, “Galo que Junta Amigos” e do “Galo que Junta o País”.

Francisco Julião








FRANCISCO JULIÃO
Recife, 1992
Fotografias de Clóvis Campêlo

Wilson Carneiro da Cunha, o fotógrafo da cidade


WILSON CARNEIRO DA CUNHA, O FOTÓGRAFO DA CIDADE
Recife, 2014
Texto de Urariano Mota

Fotografia de autor desconhecido
 
Ao lado da Igreja de Santo Antônio, instalou-se o Kiosque do Wilson, estúdio, escritório e ponto de encontro de muitas pessoas no Recife. De 1960 até a década de 80, toda a gente do Recife gostava de ver a foto do Zeppelin sobre a cidade, e uma famosa de Lampião com os cangaceiros. Muito tempo depois é que notamos Wilson além do exótico, fora do capítulo do insólito e das fotos de batizados e casamentos. Então reconhecemos que Wilson Carneiro da Cunha foi, era o repórter fotográfico da cidade.
No registro cotidiano do Recife, muito nos espanta hoje o seu sentido de flagra, mais rápido que o de um fotógrafo de esporte no momento do gol. No precioso arquivo de sua filha Olegária, aparecem fotos de ladrões meninos ou adultos no instante do furto. Como se fosse de repente, naquele momento tão suave e sub-reptício que ninguém vê, Wilson mostrava em preto e branco os dedos escorregando em uma bolsa de mulher, no centro do Recife. O seu flagrante não media conveniências. Flechava, ou melhor, “flashava” até meninos miseráveis, sem banheiro no mocambo, defecando à luz do dia em um canal da cidade.
Olegária nos contou que tamanha era a intimidade do pai com os famosos do Recife, que ele chegou a fotografar misses de Pernambuco nuas. Para nossa infelicidade não restaram as provas, porque Wilson, honestíssimo, devolvia os negativos às donas das curvas. (O que eram os costumes do tempo e a gentileza do fotógrafo.) Wilson trabalhou em toda imprensa do Recife, mas era artista que não se limitava à pauta dos jornais, ou a mero ilustrador da notícia.
O que não cabia na imprensa era a sua especialidade. Alagados, casebres, mocambos, queima de judas, maracatu, meninos tomando banho em cano estourado, na favela um músico a tocar bandolim, sentado numa caixa de madeira, porcos na rua. Wilson possuía senso e faro próprio. Ele se estendia dos populares, dos flagrantes da gente do Recife, aos acontecimentos mais luxuosos, da “elite”. Era o fotógrafo escolhido para o Balé Bolshoi, e ao mesmo tempo ele se escolhia para o registro de um homem puxando um cachorro, tão pobre e rasgado quanto o dono. Dele são imagens dos prédios e coisas da cidade em sua mais cruel mudança. Foi Wilson quem registrou uma foto histórica da destruição da Igreja dos Martírios. Nas palavras de José Luiz da Mota Menezes em entrevista a mim:
“Então o prefeito Augusto Lucena iniciou um processo que caracterizasse o destombamento. Para esse fim, ele mandou que um indivíduo chamado Ubirajara, que era o demolidor oficial da Prefeitura do Recife, amarrasse um cabo de aço na torre da Igreja, para derrubar a torre e descaracterizar dessa forma o edifício. Wilson, aquele, do “Kiosque de Wilson”, nessa altura se achava presente, documentou o prefeito Lucena, em pessoa, auxiliado por seu secretário Ubirajara, amarrando o cabo de aço na torre da Igreja e puxando, e a torre caindo”.
Wilson usava de preferência uma Rolleiflex linha avançada, filme de 120, ou câmera Cannon. A filha Olegária, a maior fonte de conhecimento da obra do pai, nos informou que ele não deixava passar um “instantâneo”, uma das palavras queridas do fotógrafo. Então eu perguntei a Olegária como ele conseguia tais fotos, se ele possuía algum truque, pois lento é o raciocínio humano e do entrevistador. Resposta da filha: “Ele possuía uma habilidade muito grande. Rapidez. Ele tinha rapidez, uma reação rápida. Quando ele via, não pensava duas vezes, ele agia”.
Essa resposta me fez lembrar Nelson Rodrigues, quando tentou explicar Garrincha: “Todos nós dependemos do raciocínio. Não atravessamos a rua, ou chupamos um Chica-bon, sem todo um lento e intrincado processo mental. Ao passo que Garrincha nunca precisou pensar. Garrincha não pensa. Tudo nele se resolve pelo instinto, pelo jato puro e irresistível do instinto. E, por isso mesmo, chega sempre antes, sempre na frente, porque jamais o raciocínio do adversário terá a velocidade genial do seu instinto”.
Ou adaptando o drible e criação de Garrincha ao fotógrafo e repórter da cidade: Wilson pensava com os dedos e a câmera, rápido. E a sua área, o seu campo de futebol, era todo o espaço do Recife. De preferência. A não ser, claro, que aparecessem as misses nuas. Mas disso, infelizmente, jamais teremos a prova. Só o negativo do desejo.


Fonte: Diario de Pernambuco, 12/3/2018

Adeus ao traço sensual e sutil de Corbiniano


ADEUS AO TRAÇO SENSUAL E SUTIL DE CORBINIANO
Fotografia de autor desconhecido
Texto do Jornal do Commercio, em 12/3/2018

A sensualidade feminina esculpida de forma leve e sutil era uma das características mais marcantes do artista olindense José Corbiniano Lins, 94 anos, que faleceu no último sábado depois de 30 dias internado, travando uma luta contra diverticulite aguda e insuficiência renal. O sepultamento aconteceu ontem no Cemitério do Parque das Flores, na zona oeste do Recife.
Quem trabalhou ou conviveu com Corbiniano destaca que o silêncio era parte intrínseca da sua produção e chegou a ser tema de uma de suas exposições. Para o filho mais novo, Thiago Lins, a compreensão do silêncio o encantava. "Ele sabia respeitá-lo, uma dádiva que nem todo mundo consegue, mas ele tinha", disse. "A mesma dedicação com que meu pai desenvolveu suas obras de arte, ele empenhou na educação dos filhos", completou. Para a viúva, Débora Lins, Corbiniano não é passado e estará sempre sempre presente. "Não tinha maldade, gostava muito de trabalhar. Para mim, Corbiniano era o melhor escultor de todos os tempos", ressaltou.
Em meio a admiradores, família e amigos, estava Antônio Carlos Sales Cardeal, 70 anos, que trabalhou por quase cinco décadas auxiliando Corbiniano em suas esculturas. "Ficamos velhos juntos. Ele era responsável, competente demais e dominava muito o trabalho que fazia", relatou.


Um olhar entre as cidades-irmãs


UM OLHAR ENTRE AS CIDADES-IRMÃS
Recife, 12 de março de 2018
Texto de Mirella Araújo

Fotografia de Arthur de Souza / Folhape
 
Recife e Olinda por vezes se confundem, seja por serem cidades-irmãs ou pela proximidade dos seus limites geográficos. Mas, cada uma possui sua própria identidade. A Folha de Pernambuco traz nesta reportagem especial, em homenagem ao aniversário dos dois municípios, as singularidades tipicas das relações de irmandade, notadas por meio do olhar dos recifenses sobre a terra das ladeiras e da percepção dos olindenses a respeito da Veneza brasileira. Como é vista a Capital pernambucana por quem vive em Olinda? E quem mora no Recife, como enxerga as particularidades da cidade patrimônio?
De um lado, uma cidade imersa na sua própria história colonial, nos seus monumentos sagrados, e que nesta segunda-feira (12) completa 483 anos. Falar de Olinda e não falar do seu passado é quase impossível. A cidade respira cultura. Do outro lado temos Recife, celebrando 481 anos, e sua sede por avanços. A cidade tem ares modernos e espírito arrojado que se interligam, seja por suas pontes ou pelo urbanismo de metrópole.
Quem comprova esses perfis são os próprios moradores. quando questionados sobre o que mais admiram nas duas cidades-irmãs. “Com seu relevo marcante, Olinda tem como vocação a valorização das suas riquezas naturais e uma concentração muito grande de monumentos tombados, então ela consegue ter a capacidade de ser uma cidade urbana, com a simbologia histórica e com ares bucólicos”, comentou o arquiteto recifen­se e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (Cau-Pe), Rafael Tenório.
Já as intervenções urbanas encontradas no Recife têm outro pe­so, principalmente por se tratar de uma capital. “O que mais admiro em Recife são os grandes projetos urbanísticos, como a avenida Agamenon Magalhães, primeira via perimetral que desobstruiu a área correspondente ao centro do Recife. Com os corredores de vias locais, tirou-se os veículos da centralidade. Outra grande intervenção, feita na segunda metade do século passado, é a avenida Guararapes, que mantém uma ambiência agradável, mesmo localizada em uma área de centro urbano”, elencou a arquiteta Neide Cirne, que trabalha na Prefeitura de Olinda.

Histórias que vão da arte à gastronomia


Na gastronomia, há dois universos bem distintos: enquanto o Recife cultua uma personalidade cosmopolita, mais global, com abertura para a culinária de diversos lugares do mundo, em Olinda estão enraizadas as comidas que carregam histórias por trás delas.
“O complexo gastronômico destes dois lugares são muito semelhantes. Quem quer comer um bom bode guisado pode encontrar tanto no Recife quanto em Olinda. O que podemos elencar de diferente é a personalidade dos restaurantes. Além disso, no Recife nós temos o Mercado de São José, que é encantador e encontramos de tudo, desde os temperos para o dia a dia, até especiarias para pratos mais refinados. Gostaria muito que em Olinda tivéssemos um Mercado desse porte”, comentou o chef César Santos, do tradicional restaurante Oficina do Sabor, localizado no Amparo, em Olinda.
Para o chef Claudemir Barros, não menos conhecido no cenário gastrô do Recife, uma das características marcantes da culinária olindense é a gastronomia compacta. “Lá, nós podemos encontrar comida nordestina com a presença de elementos do mar, o que é bem diferente. Temos a força das tapioqueiras da Sé, que dá vida àquela área. É uma gastronomia que envolve sua história, mais compacta que a do Recife, que tem um leque mais aberto”, afirmou.
Mesmo com suas diferenças, no campo artístico as duas cidades servem de cartão-postal para inspirar artistas dos mais diversos segmentos. O músico, cantor e compositor olindense Maciel Salú é um grande admirador das pontes da cidade e do rio Capibaribe. “Recife tem uma cultura periférica muito importante. Andar pela cidade serve de grande inspiração para composições e ritmos”, declarou.
Já as ladeiras e igrejas de Olinda são retratadas através da pintura do artista plástico Geniz Marques. “Não me canso de visitar o Alto da Sé, estou sempre pintando algo em relação ao Farol, ao Homem da Meia Noite. A força da arte olindense pode ser encontrada nos ateliês, que se concentram muito mais lá do que aqui, no Recife.”

Antigamente


Um costume que já foi muito comum nos dois municípios era o de reunir vizinhos e sentar na calçada. No Recife, o hábito quase foi esquecido. Já em Olinda, no Sítio Histórico, ainda há quem se reúna com as vizinhas para falar sobre a vida. Foi assim que Arailde Botelho, de 93 anos, sentada na frente de casa com as amigas da Cidade Alta, contou sobre o que mais admira no Recife. Ela disse que sente saudades de como era a Capital antes de a correria tomar conta de suas ruas e calçadas. “Minha mãe amava o Recife, ir ao cinema. A Festa do Carmo era muito bonita. Na minha juventude, andei muito nos corsos do Carnaval”, rememorou.
Arailde nasceu na Capital, mas foi morar na cidade das ladeiras aos seis anos por conta de seu pai, que preferia Olinda. Já Maria do Bomparto, de 68 anos, de riso fácil e amor declarado por Olinda, onde mora, diz que, apesar disso, é no Recife onde ela gosta de passear. “Toda semana estou lá, gosto muito das igrejas, do Marco Zero. As coisas lá funcionam mais rápido do que aqui”, enfatizou.


Fonte: Folha de Pernambuco, 12/3/2018

sexta-feira, 9 de março de 2018

Naná Vasconcelos


NANÁ VASCONCELOS
Recife, março de 2018
Fotografia de autor desconhecido
Texto de José Teles


Dois anos sem Naná hoje. Deixou uma lacuna imensa na música pernambucana, em particular, e na brasileira, em geral. Conheci Naná pessoalmente em 1989, 30 anos, em 2019, pois. Fui à Nova Iorque pela primeira vez, e mais do que bater pernas pela cidade, me interessava entrevistá-lo para o Jornal do Commercio.
Naná era uma lenda da MPB, num tempo em que artistas brasileiros não tinham vez lá fora, ele tocara com alguns dos maiores nomes do jazz e do rock, Paul Simon, Laurie Anderson, Aztec Camera, B.B King, além de projetos feito o Codona – Naná, Don Cherry e Collin Walcott.
Raramente vinha ao Brasil, temi que alegasse não ter vaga na agenda, ou que marcasse a entrevista com seu agente. Teve nada disso. Liguei, ele atendeu, e disse que estaria em casa o dia inteiro. Podia chegar e tomar umas cervejas com ele.
Nesta época ele morava no Soho. Estava levando uns instrumentos de percussão, criados por Tavares da Gaita, que o crítico de música Héber Fonseca enviava pra Naná. Ele recebeu a mim, e a minha então mulher Cristina, com a maior simpatia. Experimentou os instrumentos. Atendeu uma ligação de jan Garbarek, e comentou sobre os “new toys” que tinha recebido do Brasil.
Depois da entrevista, fomos pra um bar na esquina. Um vagão de trem. No filme After hours, de Martin Scorsese, tem uma cena que acontece nesse vagão. Ligou antes para Arto e Duncan Lindsay. Que moravam perto e chegaram empacotados, de, sobretudo e cachecol. Fazia frio, próximo de zero.
Aquecemos com uma cerveja preta e forte. Tomamos várias. Naná não permitiu que eu pagasse a conta.
Corta para agosto de 2016. Estava de férias, fui com uma amiga, Fernanda Perez, à casa de Naná. Ele estava sozinho. Patrícia, sua mulher, no restaurante que tinha aberto recentemente.
Serviu-me um conhaque, fez rapidinho um filezinho pra petiscarmos. Tocou o ainda inédito Café no blue, disco que acabara de gravar com Zeca Baleiro, Paulo Lepetit. Me pareceu meio abatido, acho que já tinha recebido o diagnóstico do câncer de pulmão, que o levaria. Foi nosso último papo antes que a doença fosse anunciada.
Aconteceu tudo muito rápido. Há dois anos, Juvenal de Holanda Vasconcelos morreu.

Dona Leu


DONA LEU
Recife, 8 de março de 2018
Fotografia de autor desconhecido
Texto publicado no Jornal do Commercio
 
Sou pescadora e vivo disso. Criei meus cinco filhos com a venda dos mariscos e sururus. Eu sou feliz sendo pescadora e tenho um orgulho muito grande de mim. Tudo o que sou, tudo que tenho hoje veio graças ao meu pescado.
Todos os dia eu saio de casa às 4h e vou remando de Brasília Teimosa até o Santo Amaro, passando pela Prefeitura, para pescar marisco e sururu. Co
mo eu não tenho baitera, que é o barco de pequeno porte, pego emprestado com minhas amigas. Eu até mergulho para pegar o molusco com a mão. Volto para casa por volta das 9h e graças a Deus consigo vender todas as mercadorias assim que chego à comunidade. Para completar minha renda, aos sábados e domingos, monto uma barraquinha na Praia do Pina para vender peixes fritos.
Às vezes eu saio para pescar sozinha, sem a companhia das minhas amigas, mas isso não é um problema. Eu me sinto bem, é um momento de reflexão. O maior prazer da minha vida é pescar. No Dia da Mulher, eu desejo que a violência acabe. Desejo muita felicidade, sabedoria, amor e paz a todas as mulheres e peço que Deus abençoe a mim e a todas (Dona Leu, 61 anos).

 

Primitivas ruas do Recife


PRIMITIVAS RUAS DO RECIFE
Recife, março de 2018
Fotografia e texto de Leonardo Dantas Silva

 
Durante a Dominação Holandesa (1630-1654), as ruas do Recife eram conhecidas pelos nomes de Rua Real, do Vinho, do Mar, da Balsa, do Carcereiro, Nova, do Mercado Velho, do Dique de Orange, do Dique do Porto, do Bode, do Mouro, Terreiro dos Coqueiros, conforme demonstra José Antônio Gonsalves de Mello in Tempo dos Flamengos p. 74 e 111. Algumas identificáveis em nossos dias: Rua do Bode seria a Rua dos Judeus, onde se instalou a primeira sinagoga das Américas, em 1636, e hoje tem o nome de Bom Jesus; a Rua da Balsa, “a mais importante do Recife, toda pavimentada”, é hoje a Avenida Marquês de Olinda; a Rua do Vinho, “onde estavam localizados os mais vis bordéis do mundo”, é hoje trecho da Avenida Alfredo Lisboa; o Terreiro dos Coqueiros, onde estava instalado o Grande Mercado de Maurícia, passou a ser no século XVIII a Praça da Polé e, nos nossos dias é conhecida como Praça da Independência; também carinhosamente chamada de Pracinha do Diario.
Já no século XIX, escrevendo sobre o Bairro do Recife, Antônio Pedro de Figueiredo (1822-1859), que assinava no Diario de Pernambuco a secção “A Carteira”, sob o pseudônimo Abdalah-el-Kratif., na edição de 5 de outubro de 1857, relaciona:
Tem vinte e sete ruas: a da Cadeia, a da Cruz, a dos Tanoeiros, a do Trapiche, a do Vigário, a do Encantamento, a da Cacimba, a dos Burgos, a do Amorim, a do Cordoniz, a da Moeda, a da Lapa, a do Costa, a da Madre de Deus, a do Torres, a da Lingueta, a da Senzala Velha, a da Senzala Nova, a da Guia, a do Brum, a do Pilar, a dos Guararapes, a do Farol, a do Cais, a do Apollo e a do Areal.
Tem treze becos: o do Noronha, o do Abreu, o do Gonçalves, o do Campelo, o das Miudinhas, o do Porto, o de Manuel Antero, o do Valadares, o do Pascal, o do Teixeira, o do Largo, o do Tocolombó e o do Monteiro.
Contam-se sete travessas: a do Vigário, a da Madre de Deus, a das Crioulas, a da Guia, a do Vieira, a dos Guararapes e a do Farol; e quatro largos, o da Alfândega, o da Assembléia, o do Corpo Santo e o do Pilar.
As primitivas ruas do Recife, quando não serviam para indicar antigos edifícios ou prédios do uso comum da população, quase sempre tomavam o nome do seu primeiro morador, como se depreende de aquarela pintada pelos frades do Convento da Penha denunciando a construção da “ribeira nova”, mercado destinado à comercialização de frutas e verduras, no bairro de São José. O documento de fins do século XVIII, atualmente conservado no Arquivo Histórico Ultramarino (Lisboa), traz o traçado de algumas casas com alguns nomes de ruas: “as casas de José de Souza Rangel”; “a Rua da Praia chamada do Rangel”; “rua chamada também da Praia com o nome de Santa Rita Nova”; “rua encostada ao muro da Penha que vai para São José”; “largo chamado da Penha”.
A Rua do Crespo, cujo nome antecedeu a nossa atual Primeiro de Março, tem também sua identificação com Manuel de Souza Crespo, natural da cidade do Porto (Portugal), que veio para o Brasil como marinheiro em 1648 e aqui se transformou em mercador, residindo na Cidade Maurícia, em rua que lhe tomou o nome, permanecendo até fins do século passado.
A Rua do Espinheiro fora antes, como se depreende da edição do Diario de Pernambuco de 4 de setembro de 1828, o Sítio do Espinheiro que deu origem ao Beco do Espinheiro. Nas suas cercanias o cidadão Pedro da Hora Santiago anunciava pelo mesmo jornal, na edição de 2 de fevereiro de 1874, a venda de uma casa “não acabada em terreno com 50 palmos de frente e 500 de fundos nas proximidades do Beco do Espinheiro”. O mesmo Pedro da Hora Santiago, na edição de 19 de junho do mesmo jornal, que trata da sessão da Câmara Municipal de 20 de abril do mesmo ano, tem publicada uma petição “pedindo licença para rebocar sua casa na Rua da Hora, no Beco do Espinheiro”.
O antigo Beco do Padre Inglês, hoje rua, remonta ao ano de 1837 quando ali foi morar o reverendo Charles Adye Austin, primeiro capelão da igreja anglicana da Santíssima Trindade, construída pela comunidade inglesa na Rua da Aurora, que aqui chegou em 28 de abril de 1835.
No bairro de São José, a Rua da Concórdia, que certa vez tentaram mudar o seu nome para Marquês do Herval, teve a sua denominação originada de uma disputa dos seus antigos moradores, Manuel José e José Fernandes. Em 1833, porém, foi proposta a denominação de Rua da Concórdia, sugerida pelo vereador Antônio Peregrino Maciel Monteiro, depois Barão de Itamaracá, homologada, em 5 de novembro daquele ano pela Câmara do Recife, que pôs um fim à celeuma.
A Rua das Trincheiras, desaparecida com o alargamento da Avenida Dantas Barreto, já era conhecida com esta denominação em 1654 quando do Inventário de Armas e Petrechos Bélicos etc. A decantada Rua da Aurora surgiu de um aforamento concedido pela Câmara, em 20 de dezembro de 1806, a Cassimiro Antônio de Medeiros para aterrar o trecho do rio e nele construir as primeiras casas. Inicialmente, tomou o nome do seu primeiro morador, mas logo adotou a sua denominação atual, por se encontrar localizada de frente para o nascente, ao contrário de sua paralela, a Rua do Sol, que se encontra voltada para o poente.
Como na canção de Alceu Valença e Vicente Barreto:

Pelas ruas que andei... procurei.
Procurei... , procurei.., te encontrar.
Na Madalena revi teu nome

Na Boa Vista quis te encontrar
Rua do Sol,  da Boa Hora
Rua da Aurora, vou caminhar
Rua das Ninfas, Matriz, Saudade

Da Soledade de quem passou
Rua Benfica, Boa Viagem
Na Piedade tanta dor...