sexta-feira, 9 de março de 2018

Naná Vasconcelos


NANÁ VASCONCELOS
Recife, março de 2018
Fotografia de autor desconhecido
Texto de José Teles


Dois anos sem Naná hoje. Deixou uma lacuna imensa na música pernambucana, em particular, e na brasileira, em geral. Conheci Naná pessoalmente em 1989, 30 anos, em 2019, pois. Fui à Nova Iorque pela primeira vez, e mais do que bater pernas pela cidade, me interessava entrevistá-lo para o Jornal do Commercio.
Naná era uma lenda da MPB, num tempo em que artistas brasileiros não tinham vez lá fora, ele tocara com alguns dos maiores nomes do jazz e do rock, Paul Simon, Laurie Anderson, Aztec Camera, B.B King, além de projetos feito o Codona – Naná, Don Cherry e Collin Walcott.
Raramente vinha ao Brasil, temi que alegasse não ter vaga na agenda, ou que marcasse a entrevista com seu agente. Teve nada disso. Liguei, ele atendeu, e disse que estaria em casa o dia inteiro. Podia chegar e tomar umas cervejas com ele.
Nesta época ele morava no Soho. Estava levando uns instrumentos de percussão, criados por Tavares da Gaita, que o crítico de música Héber Fonseca enviava pra Naná. Ele recebeu a mim, e a minha então mulher Cristina, com a maior simpatia. Experimentou os instrumentos. Atendeu uma ligação de jan Garbarek, e comentou sobre os “new toys” que tinha recebido do Brasil.
Depois da entrevista, fomos pra um bar na esquina. Um vagão de trem. No filme After hours, de Martin Scorsese, tem uma cena que acontece nesse vagão. Ligou antes para Arto e Duncan Lindsay. Que moravam perto e chegaram empacotados, de, sobretudo e cachecol. Fazia frio, próximo de zero.
Aquecemos com uma cerveja preta e forte. Tomamos várias. Naná não permitiu que eu pagasse a conta.
Corta para agosto de 2016. Estava de férias, fui com uma amiga, Fernanda Perez, à casa de Naná. Ele estava sozinho. Patrícia, sua mulher, no restaurante que tinha aberto recentemente.
Serviu-me um conhaque, fez rapidinho um filezinho pra petiscarmos. Tocou o ainda inédito Café no blue, disco que acabara de gravar com Zeca Baleiro, Paulo Lepetit. Me pareceu meio abatido, acho que já tinha recebido o diagnóstico do câncer de pulmão, que o levaria. Foi nosso último papo antes que a doença fosse anunciada.
Aconteceu tudo muito rápido. Há dois anos, Juvenal de Holanda Vasconcelos morreu.

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