segunda-feira, 12 de março de 2018

Um olhar entre as cidades-irmãs


UM OLHAR ENTRE AS CIDADES-IRMÃS
Recife, 12 de março de 2018
Texto de Mirella Araújo

Fotografia de Arthur de Souza / Folhape
 
Recife e Olinda por vezes se confundem, seja por serem cidades-irmãs ou pela proximidade dos seus limites geográficos. Mas, cada uma possui sua própria identidade. A Folha de Pernambuco traz nesta reportagem especial, em homenagem ao aniversário dos dois municípios, as singularidades tipicas das relações de irmandade, notadas por meio do olhar dos recifenses sobre a terra das ladeiras e da percepção dos olindenses a respeito da Veneza brasileira. Como é vista a Capital pernambucana por quem vive em Olinda? E quem mora no Recife, como enxerga as particularidades da cidade patrimônio?
De um lado, uma cidade imersa na sua própria história colonial, nos seus monumentos sagrados, e que nesta segunda-feira (12) completa 483 anos. Falar de Olinda e não falar do seu passado é quase impossível. A cidade respira cultura. Do outro lado temos Recife, celebrando 481 anos, e sua sede por avanços. A cidade tem ares modernos e espírito arrojado que se interligam, seja por suas pontes ou pelo urbanismo de metrópole.
Quem comprova esses perfis são os próprios moradores. quando questionados sobre o que mais admiram nas duas cidades-irmãs. “Com seu relevo marcante, Olinda tem como vocação a valorização das suas riquezas naturais e uma concentração muito grande de monumentos tombados, então ela consegue ter a capacidade de ser uma cidade urbana, com a simbologia histórica e com ares bucólicos”, comentou o arquiteto recifen­se e presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (Cau-Pe), Rafael Tenório.
Já as intervenções urbanas encontradas no Recife têm outro pe­so, principalmente por se tratar de uma capital. “O que mais admiro em Recife são os grandes projetos urbanísticos, como a avenida Agamenon Magalhães, primeira via perimetral que desobstruiu a área correspondente ao centro do Recife. Com os corredores de vias locais, tirou-se os veículos da centralidade. Outra grande intervenção, feita na segunda metade do século passado, é a avenida Guararapes, que mantém uma ambiência agradável, mesmo localizada em uma área de centro urbano”, elencou a arquiteta Neide Cirne, que trabalha na Prefeitura de Olinda.

Histórias que vão da arte à gastronomia


Na gastronomia, há dois universos bem distintos: enquanto o Recife cultua uma personalidade cosmopolita, mais global, com abertura para a culinária de diversos lugares do mundo, em Olinda estão enraizadas as comidas que carregam histórias por trás delas.
“O complexo gastronômico destes dois lugares são muito semelhantes. Quem quer comer um bom bode guisado pode encontrar tanto no Recife quanto em Olinda. O que podemos elencar de diferente é a personalidade dos restaurantes. Além disso, no Recife nós temos o Mercado de São José, que é encantador e encontramos de tudo, desde os temperos para o dia a dia, até especiarias para pratos mais refinados. Gostaria muito que em Olinda tivéssemos um Mercado desse porte”, comentou o chef César Santos, do tradicional restaurante Oficina do Sabor, localizado no Amparo, em Olinda.
Para o chef Claudemir Barros, não menos conhecido no cenário gastrô do Recife, uma das características marcantes da culinária olindense é a gastronomia compacta. “Lá, nós podemos encontrar comida nordestina com a presença de elementos do mar, o que é bem diferente. Temos a força das tapioqueiras da Sé, que dá vida àquela área. É uma gastronomia que envolve sua história, mais compacta que a do Recife, que tem um leque mais aberto”, afirmou.
Mesmo com suas diferenças, no campo artístico as duas cidades servem de cartão-postal para inspirar artistas dos mais diversos segmentos. O músico, cantor e compositor olindense Maciel Salú é um grande admirador das pontes da cidade e do rio Capibaribe. “Recife tem uma cultura periférica muito importante. Andar pela cidade serve de grande inspiração para composições e ritmos”, declarou.
Já as ladeiras e igrejas de Olinda são retratadas através da pintura do artista plástico Geniz Marques. “Não me canso de visitar o Alto da Sé, estou sempre pintando algo em relação ao Farol, ao Homem da Meia Noite. A força da arte olindense pode ser encontrada nos ateliês, que se concentram muito mais lá do que aqui, no Recife.”

Antigamente


Um costume que já foi muito comum nos dois municípios era o de reunir vizinhos e sentar na calçada. No Recife, o hábito quase foi esquecido. Já em Olinda, no Sítio Histórico, ainda há quem se reúna com as vizinhas para falar sobre a vida. Foi assim que Arailde Botelho, de 93 anos, sentada na frente de casa com as amigas da Cidade Alta, contou sobre o que mais admira no Recife. Ela disse que sente saudades de como era a Capital antes de a correria tomar conta de suas ruas e calçadas. “Minha mãe amava o Recife, ir ao cinema. A Festa do Carmo era muito bonita. Na minha juventude, andei muito nos corsos do Carnaval”, rememorou.
Arailde nasceu na Capital, mas foi morar na cidade das ladeiras aos seis anos por conta de seu pai, que preferia Olinda. Já Maria do Bomparto, de 68 anos, de riso fácil e amor declarado por Olinda, onde mora, diz que, apesar disso, é no Recife onde ela gosta de passear. “Toda semana estou lá, gosto muito das igrejas, do Marco Zero. As coisas lá funcionam mais rápido do que aqui”, enfatizou.


Fonte: Folha de Pernambuco, 12/3/2018

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