quarta-feira, 6 de junho de 2018

terça-feira, 10 de abril de 2018

A Casa de Banhos


A CASA DE BANHOS

Leonardo Dantas Silva

A Casa de Banhos era uma casa que ficava no dique natural do Porto do Recife, em Pernambuco, onde atualmente se encontra o Parque das Esculturas de Francisco Brennand e o Farol do Recife.
Foi construída em 1880 por Carlos José de Medeiros, próximo a antiga Ponte Giratória e no início do Século XX foi bastante frequentada pela sociedade recifense, que para ali se dirigia para tomar banho salgado em suas piscinas naturais.
A autorização inicial de construção, dada pelo governo, foi para a construção de uma residência sobre o dique.
Algum tempo depois, o proprietário iniciou sua exploração comercial, transformando-a em uma hospedaria, considerada para fins medicinais. Seu nome oficial era Grande Estabelecimento Balneário de Pernambuco, nome este que não caiu no gosto do povo, que a chamou de Casa de Banhos.
Em 1902, possuía cinco banheiros, que permitiam o uso simultâneo de 350 pessoas, 102 compartimentos próprios para a toilette dos banhistas, um grande salão de refeições, duas salas, um gabinete de leitura e outras dependências. Um sistema de proteção feito com cabos de aço contornava a piscina e impedia os banhistas caíssem no mar. A Casa de Banhos propriamente dita consistia numa edificação de madeira, onde funcionavam um bar e restaurante.[2]
Os proprietários moravam numa dependência do próprio estabelecimento, até mesmo depois da morte do Sr. Medeiros, que chegou a ter uma filha nascida naquele local. Logo após o estabelecimento foi adquirido pelo inglês Sydney Rodhes, que modificou suas instalações e aumentou o preço cobrado pelos banhos. Isso fez com que o Governo de Pernambuco modificasse sua tabela de preços, tornando obrigatório o banho gratuito de 5 doentes da Santa Casa de Misericórdia por dia.
Em 1920 a Casa de banhos foi destruída por um incêndio.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Bajado


BAJADO

Regina Coeli Viera Machado

Euclides Francisco Amâncio, artista plástico, chargista, letreirista, cartazista, pintor de quadros e murais, conhecido mundialmente como Bajado, nasceu no dia 9 de dezembro de 1912, no município de Maraial, no Estado de Pernambuco.
O apelido Bajado surgiu na infância por causa de uma brincadeira, durante um jogo de bicho, seu passatempo preferido.
Bajado mudou-se para Catende, outro município pernambucano, ainda adolescente, indo trabalhar como ajudante e pintor de cartazes de filmes de faroeste, onde ficou até 1930.
Quatro anos depois, foi morar no Recife, onde arranjou um emprego como letreirista de cartazes e operador de máquina do Cine Olinda, função que exerceu até 1950.
Nas horas vagas pintava letreiros, fachadas e interiores de lojas comerciais, restaurantes e botequins, ornamentando-os com figuras ou compondo painéis e quadros.
O artista prestou uma grande homenagem ao bloco carnavalescoDonzelinhos dos Milagres que estava encerrando, para sempre, os seus festejos de carnaval, pintando na parede de sua sede os versos: "O mar que levou a praia, levou também Donzelinhos."
O gosto pela arte se manifestou quando Bajado retratou os clubes carnavalescos de Olinda, Pernambuco, Pitombeira dos Quatro Cantos, Elefante,O Homem da Meia-Noite, Cariri, Vassourinhas, assim como o frevo rasgado na Ribeira, Largo do Amparo, Varadouro, Praça do Carmo.
Em 1964, junto com alguns amigos de profissão, inaugurou o Movimento de Arte da Ribeira, em Olinda, onde passou a expor seus trabalhos.
Dentre uma mistura de cores e tintas, Bajado foi capaz de reproduzir inúmeras telas sobre a vida cotidiana, o sofrimento, as emoções e a cultura do povo pernambucano.
O artista possuía um temperamento calmo e brincalhão. Fluiu na arte, com a simplicidade de um homem humilde. Era considerado um artista primitivo, inserido no estilo da arte contemporânea. Sua tendência artística era a liberdade de estética, comum na arte moderna, e suas obras retratavam tanto os folguedos carnavalescos, como também reverenciavam políticos e personalidades ilustres da sociedade pernambucana: Agamenon Magalhães, o presidente Jânio Quadros, o general Teixeira Lott, entre outros.
Na década de 1970, um turista italiano, Giuseppe Baccaro, ao ver as suas pinturas e quadros a óleo expostos nas residências e estabelecimentos comerciais de Olinda, ficou impressionado diante do primitivismo artístico do pintor que assinava da seguinte maneira as suas obras: "Bajado um artista de Olinda". Contactando-o, lançou-se como divulgador e administrador dos seus trabalhos.
Em decorrência disso, alguns meses depois, começaram a aparecer as suas primeiras exposições e mostras no Recife, na Casa da Cultura, na Fundação Joaquim Nabuco, na Caixa Econômica Federal, no Lions Club, no Cabanga Iate Clube.
Novas oportunidades continuaram a surgir, desta vez para o artista expor em outras capitais brasileiras como o Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Vitória. Do exterior, Bajado recebeu vários convites para ir apresentar as suas obras. Neste sentido, iniciou pela França uma maratona artística, passando pela Itália, Espanha, Holanda e Tchecoslováquia, atual República Tcheca.
Em 1994, no limiar dos 80 anos, Bajado foi homenageado com uma mostra internacional na sede da Unesco, em Paris, com a participação de diversos artistas internacionais.
Contido, apesar da sua fama e do seu talento artístico, ele sempre viveu humildemente. Tinha como o maior prazer da vida a expressão da sua arte primitiva, a alegria do seu povo.
Bajado passou seus últimos dias assistindo filmes antigos na televisão e recordando as peripécias da sua mocidade. O artista plástico, faleceu em 1996, aos 84 anos de idade, em sua residência localizada na Rua do Amparo, nº 186, Olinda, imóvel este que lhe foi doado por Baccaro, o seu marchand italiano.


Fonte: Site da Fundaj

segunda-feira, 2 de abril de 2018

O maestro Nelson Ferreira


O MAESTRO NELSON FERREIRA

Clóvis Campêlo

A cidade do Bonito fica a 136 quilômetros do Recife, no agreste pernambucano. Com menos de 40 mil habitantes, é uma cidade pacata instalada numa bela região repleta de cachoeiras e quedas d'água. Pois bem! Foi nesse lugar aprazível que nasceu o maestro Nelson Ferreira, em 9 de dezembro de 1902.
Segundo a Wikipédia, Nelson Ferreira era filho de um violonista vendedor de jóias e de uma professora primária. Aprendeu a tocar violão, violino e piano. Fez sua primeira composição aos catorze anos, a valsa Vitória, sob encomenda.
Tocou em pensões, cafés e saraus e nos cinemas Royal e Moderno, no Recife, sendo considerado o pianista mais ouvido na época do cinema mudo.
Foi diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco, convidado por Oscar Moreira Pinto. Também Diretor artístico da Fábrica de Discos Rozenblit, selo Mocambo, única gravadora de discos instalada nos anos 1950 fora do eixo Rio/São Paulo. Estudou no Grupo Escolar João Barbalho - Recife/PE. Maestro, formou uma orquestra de frevos cuja fama percorreu todo o Brasil.
Quem pensa, porém, que Nelson Ferreira era apenas um compositor de frevo se engana. Tendo de sua autoria composições de vários ritmos e estilos, como foxtrote, tango, canção, no entanto, especializou-se e foi conhecido no Brasil como compositor de frevos. Nelson Ferreira faleceu no Recife, em 21 de dezembro de 1976.
Sobre ele assim se expressou Isabelle Barros, no site Uai: “Há quarenta anos, a música de Pernambuco ficou em tom menor. Em 1976, o maestro Nelson Ferreira morreu e levou com ele um talento musical prodigioso, que deu origem a cerca de 600 composições, entre eles frevos ouvidos até hoje nas ruas, casas e clubes. Se nomes como Felinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon ainda são lembrados, é por causa dele e de sua composição mais famosa, Evocação nº 1. No entanto, a importância de Nelson Ferreira não se resume às suas composições e ao seu talento como pianista e arranjador - como se isso fosse pouco. Ele foi o responsável por revelar talentos e desbravar um espaço novo para a música pernambucana como diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco e da Fábrica de Discos Rozenblit. Na primeira, impulsionou carreiras como a de Sivuca (1930-2006), que ficou grato a Nelson até o fim de sua vida, e, na segunda, gravou frevos que não estariam registrados se não fossem pela sua ligação umbilical com a música pernambucana”.
E ainda: “Nos últimos anos de vida, Nelson se preocupava com os destinos da música local. Ao se aposentar da Rádio Clube, em 1968, montou a Orquestra Nelson Ferreira, mas a concorrência com a música vinda do Sudeste, especialmente o samba, e a crise da Rozenblit, debilitada após sucessivas enchentes que danificaram suas instalações, não lhe eram favoráveis. Mesmo assim, se manteve ativo, compondo e à frente de sua orquestra até pouco tempo antes de falecer. Em 21 de dezembro de 1976, foi a vez de Nelson ser alvo de evocações e homenagens. No cortejo para seu enterro, compareceram mais de duas mil pessoas. Entre elas, Evocação nº 1, sua ode ao Recife e ao Carnaval”.

domingo, 1 de abril de 2018

Ramón, nosso grande artilheiro


RAMÓN, NOSSO GRANDE ARTILHEIRO

Clóvis Campêlo

Amigos corais, o dia 12 de março não marca apenas os aniversários das cidades de Olinda e Recife. Foi em 12 de março de 1950 que Ramón da Silva Ramos nasceu na cidade de Sirinhaém, na zona da mata sul de Pernambuco. Portanto, dias atrás o nosso grande artilheiro completou 68 anos de idade.
Segundo a Wikipédia, Ramón iniciou a sua carreira futebolista no time da usina Trapiche, local onde trabalhava. Quem treinava o time da usina era Dario, um ex-jogador do América e do Sport e que posteriormente se tornaria técnico da base do Santa Cruz. Foi ele quem levou Ramón para as Repúblicas Independentes do Arruda e lhe deu a oportunidade de jogar no juvenil. Não demorou para que ele fosse promovido para a equipe profissional como um dos destaques do elenco.
Aliás, em 1969 o Santa Cruz começou a escalada do pentacampeonato estadual, e Ramós já despontava jogando na equipe de aspirantes. Nesse mesmo, o técnico Gradim resolveu aproveitá-lo no time de cima. Mas foi o treinador Duque que o efetivou definitivamente como titular. Rapidamente Ramón ganhou notoriedade na equipe principal, contribuindo decisivamente na conquista do pentacampeonato pernambucano (1969 a 1973) e principalmente pela sua atuação no campeonato brasileiro de 1973, quando foi o artilheiro da competição com 21 gols marcados.
Em 1975, saiu do santa Cruz para ir jogar no Internacional, de Porto Alegre. No Santinha, marcou 148 gols em 377 jogos disputados, ainda segundo a Wikipédia.
Chegou a ser incluído entre os 40 selecionados pelo técnico Zagallo para o Mundial de 1974, na Alemanha, mas uma contusão muscular lhe tirou qualquer chance de concorrer à vaga, pois a recuperação foi longa.
Em 1983, antes de encerrar a sua carreira como jogador, ainda voltou ao Santa Cruz, tendo a sua volta ao clube coral merecido uma matéria na revista Placar. Hoje, vive no Recife e trabalha como treinador nas equipes de base do Santinha.
Segundo o jornalista Cassio Zirpoli, em matéria publicada no seu blo no Diario de Pernambuco, em 12 de março do ano passado, Ramós é o 3º maior goleador da história coral, só ficando abaixo de Tará e Luciano Veloso. Este, aliás, tornou-se um amigo, companhia constante nas cadeiras pretas do Mundão, onde ainda acompanha o Santa, 50 anos depois e já como conselheiro.
Segundo matéria assinada pelos jornalistas Rogério Micheletti e Gustavo Grohmann, no site Terceiro Tempo, em 1976, antes de se transferir para o Vasco, o ex-centroavante teve uma rápida passagem pelo Inter de Porto Alegre (RS), onde atuou ao lado de craques como o goleiro Manga, Elias Figueroa e Falcão. Logo depois foi para o Sport e do time pernambucano foi negociado com o Vasco da Gama. Ramon também passou pelo Goiás, de 1979 a 81, Ceará, em 1981 e 82, São José, em 1983, Ferroviário, em 1984, e Brasília, em 1985, quando encerrou a carreira. Ramon é casado, tem cinco filhos e sete netos.
Ainda segundo a matéria acima citada, após se tornar o artilheiro do campeonato nacional, o Jóquei Clube de Pernambuco, através de seu presidente Sadoc Souto Maior, decidiu homenagear o centroavante Ramon. Foi-se, então, realizado o Grande Prêmio Ramón. E ainda: em homenagem ao pentacampeonato, conquistado por Ramon e seus companheiros, os irmãos Valença, autores do hino oficial do Santa Cruz, compuseram o frevo "O papa-taças" ("Quem é que quando joga a poeira se levanta? É o Santa! É o Santa!").
Um sucesso que Ramón mereceu, com certeza.


terça-feira, 27 de março de 2018

O Edifício Trianon




Fotografias de Clóvis Campêlo / 2018

O EDIFÍCIO TRIANON

Clóvis Campêlo

Consta que o prédio foi inaugurado em 1945.
Segundo a página Prédios do Recife, do Facebook, o prédio é um dos marcos da arquitetura moderna dos anos 30, o que nos leva a supor que é deste período o seu projeto. No edifício, até 1990, funcionou o Cinema Trianon do Grupo Art Filmes.
A concepção do edifício seguiu o princípio de prédios de uso misto como o Cinema Ipiranga/Hotel Excelsior em São Paulo, abrigando escritórios, consultórios e o cinema homônimo no térreo.
Ainda segundo a mesma página, a fachada da esquina com a Avenida Guararapes e Rua do Sol é marcada por uma grande reentrância curva, completada por marcações de pestanas de concreto entre seus pavimentos. O projeto original previa apenas quatro pavimentos, depois ampliado para sete. O cinema abrigava 611 lugares e a sua área era coberta com tesouras em concreto e telhas cerâmicas.
A edificação está inserida no polígono de tombamento dos bairros São José e Santo Antônio, pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.
Em 2012, no seu blog, Maria Helena do Nascimento, a Cidadã Repórter, já reclamava da situação de abondono do prédio: “O outrora famoso Edifício Trianon, um dos mais bonitos cartões postais da capital pernambucana, transformou-se em uma velha e feia carcaça sem portas e janelas, um prédio catacumba localizado na Avenida Guararapes esquina com a Rua do Sol, área central do Recife”.
Hoje, a situação não é muito diferente. O prédio continua abandonado e nem mesmo serve mais para os camarotes do Galo da Madrugada durante o carnaval, haja visto que a agremiação mudou o seu itinerário durante os festejos de Momo.
Os grandes médicos recifenses dos anos 60 e 70 tinham no prédio os seus consultórios. Lembro do doutor Ernani Bérgamo, otorrino famoso na época e que tinha na sua sala um impressionante gabinete entalhado em jacarandá da Bahia. Da janela do consultório tinha-se uma visão privilegiada do Capibaribe e do famoso Quem-me-Quer, como eram chamadas naquela época as calçadas que circundavam o rio. Na margem oposta, ao lado do Cinema São Luiz, a famosa sorveteria Gemba.
No Cinema Trianon, tive o privilégio de assistir a alguns dos grandes filmes da época, como 2001, uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick, e o filme original do Planeta dos Macacos, Charlton Heston, baseado no romance de Pierre Boulle.
Como podemos observar pelas fotografias acima, o abandono do prédio não é um fato isolado. Reflete a perda da importância de toda aquela área, abandonada pelo poder público e pela iniciativa privada.
Como já disse o poeta, a grana ergue e destrói coisas belas. O Edifício Trianon e todo o seu entorno perderam importância depois do surgimento de outras áreas e concepções de comércio na cidade, como por exemplo a construção dos grandes shoppings center.
O centro histórico do Recife hoje está entregue ao comércio informal, aos pequenos comerciantes e às casas do jogo do bicho, atividade que é considerada contravenção mas que se mantém por garantir o emprego de milhares de pessoas. 

Troça Carnavalesca Tubarão do Pina

Pescadores do Pina

TROÇA CARNAVALESCA TUBARÃO DO PINA



Clóvis Campêlo



Segundo a pesquisadora Cláudia M. de Assis Rocha Lima, em texto publicado no site da Fundaj, a troça carnavalesca mista é um clube de frevo em menor dimensão que sai logo no início da manhã, apresenta-se nas ruas do centro ou do subúrbio, até as primeiras horas da tarde. Originam-se esses grupos carnavalescos de simples brincadeiras, onde está implícito o espírito crítico dos próprios foliões, como demonstra o significado do verbo troçar: escarnear, zombar, ridicularizar; vindo assim caracterizar a psicologia desses agrupamentos. As troças são divididas, pela Federação Carnavalesca Pernambucana em primeira, segunda e terceira categorias, havendo outras que, por não estarem filiadas, não pertencem a quaisquer divisões. São a alegria dos subúrbios, chamadas por vezes de "levanta poeira". Alegram o carnaval de rua, durante o dia, e, por vezes, se apresentam com mais luxo e melhores orquestras, que os próprios clubes carnavalescos.

Tubarão do Pina era uma dessas troças, formada pela grande colônia de pescadores que havia no bairro e que animava o carnaval dali. Também tinha uma sede na Avenida Encanta Moça, onde nos finais de semana a categoria participava das festas.

Descobri com atraso que o pai do amigo Ademário Pessoa foi presidente da agremiação, conservando em casa, durante anos, um estandarte azul da troça. A peça foi descartada com a morte de dona Mariá, mão de Ademário. Teria sido uma relíquia importante, um troféu que eu guardaria com admiração pelo resto da vida.

Não sei onde é a sede do clube hoje. Nem mesmo sei se ela ainda existe, pois leio nos jornais do Recife que a Troça Carnavalesca Tubarão do Pina só se organiza nas proximidades do carnaval. Descubro ainda que este ano Tubarão desfilou no polo da Avenida do Forte, na zona oeste da cidade, reservado geralmente para agremiações de terceira ou quarta categoria.

Na verdade, amigos, o Pina mudou muito nos últimos anos. A sua acelerada urbanização e a ocupação desenfreada dos seus espaços pela especulação imobiliária (hoje o bairro tem o metro quadrado mais caro do Recife) fez com que muitas das manifestações populares que ali havia nos anos sessenta e setenta fossem transferidas para outros locais acompanhando os segmentos sociais que a cultivavam. Foi assim com os terreiros de macumba que existiam na beira da maré, aterrada pelas largas avenidas que hoje cortam o bairro; foi assim com os pastorís profanos que nos encantavam nas festas natalinas; foi assim com algumas agremiações carnavalescas.

Sem nenhum ranço saudosista, mas lamentando a mudança ocorrida, sentimos falta ainda hoje dessas manifestações. O Pina sempre foi um caldeirão cultural que perdeu força com a chegada da classe média alta ao bairro.

Na comunidade do Bode, por exemplo, ainda podemos entender a presença de um clube como o Banhistas do Pina, ou do Maracatu Nação Porto Rico, no Encanta Moça. Mas tememos sinceramente que esses focos de resistência cultural terminem sendo anulados ou transferidos com a evolução e o progresso do bairro.

Essas duas comunidades, por exemplo, estão constantemente ameaçadas pela chegada das obras modernizadoras. A Via Mangue que o diga.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Monumento da Gaivota Karina






Fotografias de Clóvis Campêlo / 2018

MONUMENTO DA GAIVOTA KARINA

Clóvis Campêlo

De acordo com o blog das PPPs, o Monumento da Gaivota Karina é de autoria do artista plástico, escultor e ceramista Val Bonfim, inspirado no poema “Ode à Karina”, do escritor, jornalista e poeta, Waldimir Maia Leite, membro da Academia Pernambucana de Letras (APL) e cidadão jaboatanense. No monumento é possível ler o poema, que está cravado na lateral da base da escultura.
Ainda segundo o mesmo blog, o Monumento da Gaivota Karina, foi esculpido em 1994. O local escolhido para a fixação da escultura – em frente ao Hospital da Aeronáutica, na beira-mar de Piedade – era frequentado pelas gaivotas, sempre ao entardecer. Nos anos 80, o poeta Waldimir Maia Leite usando o seu espírito romântico, começou a escrever versos soltos a respeito dessas gaivotas. Aos domingos, em sua página “Paralelo 8”, do Diário de Pernambuco, o poeta sempre escrevia para uma, entre tantas gaivotas, a qual associou no seu sentimento oculto, uma bela e esplendorosa gaivota, que logo passou a chama-la de Karina. Assim, os versos de Karina ficaram conhecidos em vários lugares do Brasil, pela circulação da sua coluna jornalística.  Então, o poema “Ode a Karina” foi prestigiado nesta belíssima escultura, e hoje, é considerado um dos espaços turísticos e artísticos de memória histórica e cultural de Jaboatão dos Guararapes”.
Segundo o site da Arte Maior Galeria, Val Bonfim nasceu em Pernambuco em 5 de maio de 1942. Iniciou-se na arte em 1964. Escultor e pintor, realizou exposições individuais e participou de diversas coletivas no Brasil e Exterior. A beleza, originalidade e forma fazem o encanto da arte de Bonfim.
Inicialmente o Monumento da Gaivota Karina era na cor cinza. Depois da reforma feita pela Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, em 2014, ressurgiu branco. Antes, durante algum tempo, ficou na beira da praia entregue ao abandono e ao vandalismo de alguns. Foi pichado, as placas com poemas de Maia Leite foram arrancadas e a iluminação do local foi roubada, ficando tudo às escuras. A reforma, que custou cerca de R$ 43 mil aos cofres da prefeitura do município, garantia ao público o usufruto do monumento, num justo reconhecimento ao trabalhos dos dois artistas, hoje já falecidos.
Penso que no local, um tanto quanto deserto já que não está situado numa área residencial e tem como vizinho apenas a Praia da Piedade e o Hospital da Aeronáutica, poderia ser construído um polo de lazer, com um parque infantil e uma academia pública para os cidadões locais se exercitarem. Mas, numa época em que as prefeituras se mostram deficitárias essa sugestão pode parecer um tanto quanto sonhadora.

quarta-feira, 21 de março de 2018

O antigo posto 5


 

 

O ANTIGO POSTO 5

Clóvis Campêlo

Na verdade nem mesmo sei se essa era mesmo a sua numeração inicial. Porém, como dos cinco postos salva-vidas restantes ele é o último, no sentido Pina-Boa Viagem, assim o estou classificando.
Fica logo após a Praça de Boa Viagem, em frente ao local onde havia anteriormente o prédio de seus andares do antigo Hotel Boa Viagem, demolido no final dos anos 90.
E se antes o cenário ilustrado por coqueiros e grandes casarões, hoje o antigo posto contrasta com dois grandes espigões, construídos no terreno do antigo hotel demolido. No seu enredo, a paisagem não se modifica muito: são muitos os prédios construídos. Até mesmo a paisagem da praia mudou. Onde antes havia areia e espaço suficiente para os banhistas, hoje existe um dique feito com grandes pedras para proteger o calçadão e evitar o avanço do mar naquela área. Quando a maré está baixa, ainda sobra espaço para os banhistas e para os comerciantes que com eles dividem a areia. Quando a maré sobre, porém, a água do mar cobre toda a área, tornado-a inadequada para o banho. Nem mesmo um ponto de jangada que existia mais à frente, diante do Conjunto Residencial Transatlântico, existe mais. Não se pode porém culpar apenas o avanço do mar por isso. Com a urbanização e a excessiva valorização dos imóveis daquele trecho do bairro, a antiga colônia de pescadores que ali existia foi empurrada para longe.
Hoje, o antigo posto, como todos os outros quatro ainda remanescentes integram o Projeto Salva-Arte, numa tentativa dos poderes constituídos em ainda lhe atribuir algum valor. Se os transeuntes e moradores do bairro aprovaram essa intervenção, não sabemos.
Nas fotografias acima, feitas por nós em fevereiro próximo passado, tentamos mostrar estes contrastes entre as linhas retas dos altos prédios ao redor e as linhas curvas do posto em evidencia. Essas diferenças também podem ser admiradas do ponto de vista arquitetônico: um contraste entre o estilo funcional moderno, quase sempre em ângulos retos, e o traço decó dos postos de salvamento.
O contraste, inclusive ameniza a verticalização excessiva e exagerada dos imóveis da Avenida Boa Viagem naquele trecho, exercida numa época em que ainda não havia o controle devido da ocupação do solo urbano recifense.
Nesse sentido, é interessante citar a matéria postada no site G1, da Globo, onde a questão é abordada de uma forma genérica e mais especificamente sobre a ocupação desregrada que aconteceu nos bairros do Pina e Boa Viagem. O texto de Vitor Tavares e Luna Markman diz o seguinte: “O Recife, por exemplo, cidade que tem o privilégio de ter como vizinhos o Oceano Atlântico, rios e canais, possui inúmeras construções que simplesmente viram as costas para a paisagem natural. Outro exemplo negativo que a capital pernambucana tem, no entendimento de especialistas, é a falta de escalonamento dos edifícios. Em Boa Viagem, na Zona Sul, grande parte dos prédios mais altos está localizada na beira da praia, atrapalhando a urbanização e a circulação do vento na parte mais interna do bairro”. E continua estendendo a análise até as praias vizinhas de Piedade e Candeias, em Jaboatão dos Guararapes: “ A ocupação da orla de todo o Grande Recife também é questionável, principalmente em bairros como Piedade e Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, onde há áreas onde sequer existe calçada entre os prédios e a praia”.