quarta-feira, 21 de março de 2018

O antigo posto 5


 

 

O ANTIGO POSTO 5

Clóvis Campêlo

Na verdade nem mesmo sei se essa era mesmo a sua numeração inicial. Porém, como dos cinco postos salva-vidas restantes ele é o último, no sentido Pina-Boa Viagem, assim o estou classificando.
Fica logo após a Praça de Boa Viagem, em frente ao local onde havia anteriormente o prédio de seus andares do antigo Hotel Boa Viagem, demolido no final dos anos 90.
E se antes o cenário ilustrado por coqueiros e grandes casarões, hoje o antigo posto contrasta com dois grandes espigões, construídos no terreno do antigo hotel demolido. No seu enredo, a paisagem não se modifica muito: são muitos os prédios construídos. Até mesmo a paisagem da praia mudou. Onde antes havia areia e espaço suficiente para os banhistas, hoje existe um dique feito com grandes pedras para proteger o calçadão e evitar o avanço do mar naquela área. Quando a maré está baixa, ainda sobra espaço para os banhistas e para os comerciantes que com eles dividem a areia. Quando a maré sobre, porém, a água do mar cobre toda a área, tornado-a inadequada para o banho. Nem mesmo um ponto de jangada que existia mais à frente, diante do Conjunto Residencial Transatlântico, existe mais. Não se pode porém culpar apenas o avanço do mar por isso. Com a urbanização e a excessiva valorização dos imóveis daquele trecho do bairro, a antiga colônia de pescadores que ali existia foi empurrada para longe.
Hoje, o antigo posto, como todos os outros quatro ainda remanescentes integram o Projeto Salva-Arte, numa tentativa dos poderes constituídos em ainda lhe atribuir algum valor. Se os transeuntes e moradores do bairro aprovaram essa intervenção, não sabemos.
Nas fotografias acima, feitas por nós em fevereiro próximo passado, tentamos mostrar estes contrastes entre as linhas retas dos altos prédios ao redor e as linhas curvas do posto em evidencia. Essas diferenças também podem ser admiradas do ponto de vista arquitetônico: um contraste entre o estilo funcional moderno, quase sempre em ângulos retos, e o traço decó dos postos de salvamento.
O contraste, inclusive ameniza a verticalização excessiva e exagerada dos imóveis da Avenida Boa Viagem naquele trecho, exercida numa época em que ainda não havia o controle devido da ocupação do solo urbano recifense.
Nesse sentido, é interessante citar a matéria postada no site G1, da Globo, onde a questão é abordada de uma forma genérica e mais especificamente sobre a ocupação desregrada que aconteceu nos bairros do Pina e Boa Viagem. O texto de Vitor Tavares e Luna Markman diz o seguinte: “O Recife, por exemplo, cidade que tem o privilégio de ter como vizinhos o Oceano Atlântico, rios e canais, possui inúmeras construções que simplesmente viram as costas para a paisagem natural. Outro exemplo negativo que a capital pernambucana tem, no entendimento de especialistas, é a falta de escalonamento dos edifícios. Em Boa Viagem, na Zona Sul, grande parte dos prédios mais altos está localizada na beira da praia, atrapalhando a urbanização e a circulação do vento na parte mais interna do bairro”. E continua estendendo a análise até as praias vizinhas de Piedade e Candeias, em Jaboatão dos Guararapes: “ A ocupação da orla de todo o Grande Recife também é questionável, principalmente em bairros como Piedade e Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, onde há áreas onde sequer existe calçada entre os prédios e a praia”.


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