terça-feira, 27 de março de 2018

Troça Carnavalesca Tubarão do Pina

Pescadores do Pina

TROÇA CARNAVALESCA TUBARÃO DO PINA



Clóvis Campêlo



Segundo a pesquisadora Cláudia M. de Assis Rocha Lima, em texto publicado no site da Fundaj, a troça carnavalesca mista é um clube de frevo em menor dimensão que sai logo no início da manhã, apresenta-se nas ruas do centro ou do subúrbio, até as primeiras horas da tarde. Originam-se esses grupos carnavalescos de simples brincadeiras, onde está implícito o espírito crítico dos próprios foliões, como demonstra o significado do verbo troçar: escarnear, zombar, ridicularizar; vindo assim caracterizar a psicologia desses agrupamentos. As troças são divididas, pela Federação Carnavalesca Pernambucana em primeira, segunda e terceira categorias, havendo outras que, por não estarem filiadas, não pertencem a quaisquer divisões. São a alegria dos subúrbios, chamadas por vezes de "levanta poeira". Alegram o carnaval de rua, durante o dia, e, por vezes, se apresentam com mais luxo e melhores orquestras, que os próprios clubes carnavalescos.

Tubarão do Pina era uma dessas troças, formada pela grande colônia de pescadores que havia no bairro e que animava o carnaval dali. Também tinha uma sede na Avenida Encanta Moça, onde nos finais de semana a categoria participava das festas.

Descobri com atraso que o pai do amigo Ademário Pessoa foi presidente da agremiação, conservando em casa, durante anos, um estandarte azul da troça. A peça foi descartada com a morte de dona Mariá, mão de Ademário. Teria sido uma relíquia importante, um troféu que eu guardaria com admiração pelo resto da vida.

Não sei onde é a sede do clube hoje. Nem mesmo sei se ela ainda existe, pois leio nos jornais do Recife que a Troça Carnavalesca Tubarão do Pina só se organiza nas proximidades do carnaval. Descubro ainda que este ano Tubarão desfilou no polo da Avenida do Forte, na zona oeste da cidade, reservado geralmente para agremiações de terceira ou quarta categoria.

Na verdade, amigos, o Pina mudou muito nos últimos anos. A sua acelerada urbanização e a ocupação desenfreada dos seus espaços pela especulação imobiliária (hoje o bairro tem o metro quadrado mais caro do Recife) fez com que muitas das manifestações populares que ali havia nos anos sessenta e setenta fossem transferidas para outros locais acompanhando os segmentos sociais que a cultivavam. Foi assim com os terreiros de macumba que existiam na beira da maré, aterrada pelas largas avenidas que hoje cortam o bairro; foi assim com os pastorís profanos que nos encantavam nas festas natalinas; foi assim com algumas agremiações carnavalescas.

Sem nenhum ranço saudosista, mas lamentando a mudança ocorrida, sentimos falta ainda hoje dessas manifestações. O Pina sempre foi um caldeirão cultural que perdeu força com a chegada da classe média alta ao bairro.

Na comunidade do Bode, por exemplo, ainda podemos entender a presença de um clube como o Banhistas do Pina, ou do Maracatu Nação Porto Rico, no Encanta Moça. Mas tememos sinceramente que esses focos de resistência cultural terminem sendo anulados ou transferidos com a evolução e o progresso do bairro.

Essas duas comunidades, por exemplo, estão constantemente ameaçadas pela chegada das obras modernizadoras. A Via Mangue que o diga.

Um comentário:

  1. Publico, às 14h30, no Blog: www.robsonsampaio.com.br. A coluna Cidades Online, no domingo (Teatro da Vida/Causos – Frases – Poesias e notícias). Divulguem e mandem notas, artigos e denúncias para o e-mail: rsampaioblog@gmail.com. Abs e obg.

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