Fotografias de Clóvis Campêlo / 2018
O EDIFÍCIO TRIANON
Clóvis Campêlo
Consta que o prédio foi
inaugurado em 1945.
Segundo a página Prédios
do Recife, do Facebook, o prédio é um
dos marcos da arquitetura moderna dos anos 30, o
que nos leva a supor que é deste período o seu projeto. No
edifício, até 1990, funcionou
o Cinema Trianon do Grupo Art Filmes.
A concepção do edifício
seguiu o princípio de prédios
de uso misto como o Cinema Ipiranga/Hotel
Excelsior em São Paulo, abrigando escritórios, consultórios
e o cinema homônimo no
térreo.
Ainda segundo a mesma página, a fachada da esquina
com a Avenida Guararapes e Rua do Sol é marcada por uma grande
reentrância curva, completada por marcações de pestanas de
concreto entre seus pavimentos. O projeto original previa apenas
quatro pavimentos, depois ampliado para sete. O cinema abrigava 611
lugares e a sua área era coberta com tesouras em concreto e telhas
cerâmicas.
A edificação está inserida no polígono de tombamento dos bairros São José e Santo Antônio, pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.
Em 2012, no seu blog,
Maria Helena do Nascimento, a Cidadã Repórter, já reclamava da
situação de abondono do prédio: “O outrora
famoso Edifício Trianon, um dos mais bonitos cartões postais da
capital pernambucana, transformou-se em uma velha e feia carcaça sem
portas e janelas, um prédio catacumba localizado na Avenida
Guararapes esquina com a Rua do Sol, área central do Recife”.
Hoje, a situação não é
muito diferente. O prédio continua abandonado e nem mesmo serve mais
para os camarotes do Galo da Madrugada durante o carnaval, haja visto
que a agremiação mudou o seu itinerário durante os festejos de
Momo.
Os grandes médicos
recifenses dos anos 60 e 70 tinham no prédio os seus consultórios.
Lembro do doutor Ernani Bérgamo, otorrino famoso na época e que
tinha na sua sala um impressionante gabinete entalhado em jacarandá
da Bahia. Da janela do consultório tinha-se uma visão privilegiada
do Capibaribe e do famoso Quem-me-Quer, como eram chamadas naquela
época as calçadas que circundavam o rio. Na margem oposta, ao lado
do Cinema São Luiz, a famosa sorveteria Gemba.
No Cinema Trianon, tive o
privilégio de assistir a alguns dos grandes filmes da época, como
2001, uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick, e o filme
original do Planeta dos Macacos, Charlton Heston, baseado
no romance de Pierre Boulle.
Como
podemos observar pelas fotografias acima, o abandono do prédio não
é um fato isolado. Reflete a perda da importância de toda aquela
área, abandonada pelo poder público e pela iniciativa privada.
Como já disse o poeta, a
grana ergue e destrói coisas belas. O Edifício Trianon e todo o seu
entorno perderam importância depois do surgimento de outras áreas e
concepções de comércio na cidade, como por exemplo a construção
dos grandes shoppings center.
O centro histórico do
Recife hoje está entregue ao comércio informal, aos pequenos
comerciantes e às casas do jogo do bicho, atividade que é
considerada contravenção mas que se mantém por garantir o emprego
de milhares de pessoas.