Pescadores do Pina
TROÇA CARNAVALESCA
TUBARÃO DO PINA
Clóvis Campêlo
Segundo a pesquisadora
Cláudia M. de Assis Rocha Lima, em texto publicado no site da
Fundaj, a
troça
carnavalesca
mista
é
um clube
de frevo
em menor dimensão que sai logo no início da manhã, apresenta-se
nas ruas do centro ou do subúrbio, até as primeiras horas da tarde.
Originam-se esses grupos carnavalescos de simples brincadeiras, onde
está implícito o espírito crítico dos próprios foliões, como
demonstra o significado do verbo troçar:
escarnear, zombar, ridicularizar; vindo assim caracterizar a
psicologia desses agrupamentos. As troças
são divididas, pela Federação Carnavalesca Pernambucana em
primeira, segunda e terceira categorias, havendo outras que, por não
estarem filiadas, não pertencem a quaisquer divisões. São a
alegria dos subúrbios, chamadas por vezes de "levanta
poeira".
Alegram o carnaval de rua, durante o dia, e, por vezes, se apresentam
com mais luxo e melhores orquestras, que os próprios clubes
carnavalescos.
Tubarão
do Pina era uma dessas troças, formada pela grande colônia de
pescadores que havia no bairro e que animava o carnaval dali. Também
tinha uma sede na Avenida Encanta Moça, onde nos finais de semana a
categoria participava das festas.
Descobri
com atraso que o pai do amigo Ademário Pessoa foi presidente da
agremiação, conservando em casa, durante anos, um estandarte azul
da troça. A peça foi descartada com a morte de dona Mariá, mão de
Ademário. Teria sido uma relíquia importante, um troféu que eu
guardaria
com admiração pelo resto da vida.
Não
sei onde é a sede do clube hoje. Nem mesmo sei se ela ainda existe,
pois leio nos jornais do Recife que a Troça Carnavalesca Tubarão do
Pina só se organiza nas proximidades do carnaval. Descubro ainda que
este ano Tubarão desfilou no polo da Avenida do Forte, na zona oeste
da cidade, reservado geralmente para agremiações de terceira ou
quarta categoria.
Na verdade, amigos, o Pina
mudou muito nos últimos anos. A sua acelerada urbanização e a
ocupação desenfreada dos seus espaços pela especulação
imobiliária (hoje o bairro tem o metro quadrado mais caro do Recife)
fez com que muitas das manifestações populares que ali havia nos
anos sessenta e setenta fossem transferidas para outros locais
acompanhando os segmentos sociais que a cultivavam. Foi assim com os
terreiros de macumba que existiam na beira da maré, aterrada pelas
largas avenidas que hoje cortam o bairro; foi assim com os pastorís
profanos que nos encantavam nas festas natalinas; foi assim com
algumas agremiações carnavalescas.
Sem nenhum ranço
saudosista, mas lamentando a mudança ocorrida, sentimos falta ainda
hoje dessas manifestações. O Pina sempre foi um caldeirão cultural
que perdeu força com a chegada da classe média alta ao bairro.
Na comunidade do Bode, por
exemplo, ainda podemos entender a presença de um clube como o
Banhistas do Pina, ou do Maracatu Nação Porto Rico, no Encanta
Moça. Mas tememos sinceramente que esses focos de resistência
cultural terminem sendo anulados ou transferidos com a evolução e o
progresso do bairro.
Essas duas comunidades,
por exemplo, estão constantemente ameaçadas pela chegada das obras
modernizadoras. A Via Mangue que o diga.
Publico, às 14h30, no Blog: www.robsonsampaio.com.br. A coluna Cidades Online, no domingo (Teatro da Vida/Causos – Frases – Poesias e notícias). Divulguem e mandem notas, artigos e denúncias para o e-mail: rsampaioblog@gmail.com. Abs e obg.
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